Movimentos do Cinema: Nouvelle Vague francesa
Movimento artístico cuja influência no cinema tem sido tão
profunda e duradoura após muitos anos, a Nouvelle
Vague (Nova Onda) teve sua
explosão e auge entre 1958 e 1965. Tudo começou quando dois intelectuais
franceses, André Bazin e Jacques-Donial Valcroze, fundaram a revista de crítica
cinematográfica Cahiers du
Cinéma. Alguns dos pioneiros do movimento,
François Truffaut, Jean-Luc Godard, Alain Resnais, Eric Rohmer,
Claude Chabrol e Jacques Rivette começaram como críticos na famosa revista.
La Nouvelle Vague teve dois princípios: O primeiro foi na forma de filmar com a rejeição dos
estúdios americanos, em favor da mise-en-scene,
privilegiando tudo que está em cena, além da utilização da câmera na mão e longas
tomadas. O segundo foi a convicção de que os filmes são uma expressão artística
pessoal, assim como as obras da literatura ou da pintura. Este último princípio
seria apelidado pelo crítico americano Andrew Sarris como cinema autoral. Esse termo foi cunhado para o grupo de
intelectuais, influenciados por diretores mais autorais como Jean Renoir,
Jean Vigo, John Ford, Alfred Hitchcock e Orson Welles. Os críticos da Cahiers sabiam muito da teoria, mas pouco da
realização de um filme. Além disso, eles tiveram que trabalhar com baixos
orçamentos.
"Nas Garras do Vício" (Le beau Serge, 1958), de
Claude Chabrol, é considerado o primeiro longa-metragem do movimento. Ele utilizou o lucro arrecadado
para fazer seu segundo trabalho, "Os Primos" (Les Cousins, 1959). Esse seria
o primeiro filme de Chabrol a conter sua visão sarcástica do mundo e ganhou o
Urso de Ouro no Festival de Berlim. E foi em 1959 que a “onda” surgiu de fato
com mais três filmes de cineastas que emergiam. "Os Incompreendidos" (Les
400 Coups), de François Truffaut, "Hiroshima, Meu Amor" (Hiroshima, Mon Amour), de
Alain Resnais, além de "Acossado" (À
Bout de Souffle), de Jean-Luc Godard, atordoaram o mundo e difundiram as
ideias desses críticos que agora se tornavam cineastas inovadores.
"Os Incompreendidos" é o primeiro
de uma sequencia de filmes semi-autobiográficos que Truffaut faria com o ator
Jean-Pierre Léaud, interpretando Antoine Doinel. A
obra, incrivelmente sentimental, conta a história de um adolescente que
foge de casa ao invés de lidar com seus pais negligentes e o rígido professor.
Premiado com melhor direção em Cannes, ainda foi indicado ao Oscar de melhor
roteiro. Em "Atirem no
Pianista" (Tirez Sur le
Pianiste, 1960), a trama contava a história de um crime, mas foi um
fracasso de bilheteria. Em sua terceira obra "Uma Mulher Para
Dois" (Jules et Jim,
1962), Truffaut impressiona com um
triângulo amoroso que teve algumas premiações em
festivais. “Fahrenheit 451” (1965) foi erroneamente tratada mais como uma
ficção científica do que como uma parábola. Truffaut
realizou algumas entrevistas com Hitchcock que se tornou um livro, mas foi o
trabalho de Chabrol que seria mais frequentemente comparado com o do diretor
inglês. "Mulheres Fáceis" (Les Bonnes Femmes, 1960),
é um perfeito exemplo.
Godard é o diretor mais influente e lembrado do movimento. Com
"Acossado", ele recebeu o Urso de
Prata em Berlim de melhor diretor e curiosamente o filme é baseado em uma
história de Truffaut. O triângulo amoroso de "Uma Mulher é Uma
Mulher" (Une femme est
une femme, 1961), trás o conflito de relacionamento quase sempre presente
nas obras de Godard e ganhou o prêmio da crítica no Festival de Berlim. "Viver
a Vida" (Vivre sa
vie, 1962) recebeu o prêmio especial do júri em Veneza e é um dos mais
definitivos do movimento. "Banda à
Parte" (Bande à Part,
1964) mostra um sentimento
que não se viu em nenhum outro trabalho do diretor. Um dos mais célebres
filmes de Godard, "O Demônio das Onze Horas" (Pierrot le fou, 1965) marca a
radical quebra da narrativa convencional. "Alphaville" (1965) é uma homenagem à ficção
científica e faturou o Urso de Ouro em Berlim. Em "A Chinesa" (La Chinoise, 1967) Godard já
mostrava seu lado politizado de fazer cinema que tornou seus filmes menos acessíveis.
Um dos filmes mais inventivos do início do
movimento, "Hiroshima, Meu Amor", de Resnais, se distingue da maioria
dos outros clássicos pelo seu roteiro forte, escrito por Marguerite Duras,
indicado ao Oscar. "O Último Ano em Marienbad" (L’Année dernière à Marienbad,
1961) é um quebra-cabeça completo
que torna passado, presente e futuro, sem sentido. A obra venceu o Leão de
Ouro no Festival de Veneza, além da indicação ao Oscar de melhor
roteiro. A única mulher a
ser incluída neste movimento é Agnès Varda. A contribuição mais importante dela foi
o seu segundo filme, "Cléo das 5 às 7" (Cléo de 5 à 7, 1962), indicado
a Palma de Ouro em Cannes. Louis
Malle é outro expoente da Nouvelle Vague. Seu
primeiro filme, "Elevador para a forca" (Ascenseur pour l'Echefaud,
1958) foi uma história de suspense, mas a melhor contribuição de
Malle foi "Zazie no Metrô" (Zazie
dans le Metro, 1960).
Os cineastas da Nouvelle
Vague tornaram o movimento um
dos mais influentes da história do cinema. Muitos dos filmes se tornaram
populares e aclamados. O estilo trouxe diálogos improvisados, rápidas
mudanças de cena e a utilização da câmera na mão, uma regra até então
inviolável. As técnicas utilizadas e a abordagem estilística
podem ser vistas como uma luta desesperada contra a indústria do cinema
americano.
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